As pessoas mentem no currículo? Perguntamos a mais de 1.000 pessoas se elas florearam a verdade sobre o histórico profissional e outras seções do currículo. Veja o que descobrimos.
Bruno Bertachini
Especialista em carreira
Quando Mina Chang foi contratada como funcionária sênior da administração do Departamento de Estado dos Estados Unidos em 2019, suas credenciais provaram que ela era a candidata certa para o cargo.
Diploma de MBA de Harvard. Formada pela Colégio de Guerra do Exército dos Estados Unidos. Capa da revista Time. CEO de uma organização sem fins lucrativos. Membro de um painel da ONU.
Candidata excelente, certo? Havia apenas um problema: ela inventou tudo.
Sim, os grandes e poderosos também mentem no currículo – mas mesmo eles terão que enfrentar as consequências quando forem pegos.
Você pode não ser demitido pelo presidente – ou ser condenado a um ano de prisão, como aconteceu com uma australiana em 2019 – por mentir em seu currículo. Provavelmente, você já fez isso antes e não foi pego.
Então, começamos a pensar: qual a escala desse problema? Para investigar, fomos diretamente à fonte.
Entrevistamos 1.051 pessoas e perguntamos se elas mentiram, por que mentiram e se foram pegas.
Continue lendo para ver quais grupos de pessoas são mais propensos a falsificar e florear a verdade em seus currículos e as razões pelas quais fazem isso.
Mentiras por toda parte
Então, quem mente?
A maioria dos estudos se concentra na questão de quem: baby boomers, geração Y, geração Z.
Claro, é interessante coroar uma geração como a mais honrada.
Mas isso não nos diz muito sobre as circunstâncias pelas quais as pessoas mentem no currículo.
Nosso estudo aponta para os motivos sistêmicos pelos quais as pessoas mentem no currículo – falta de experiência ou estar desempregado por longos períodos –, assim como os profissionais do setor.
Como em outros estudos, pudemos ver resultados semelhantes de que a maioria das pessoas mente no currículo.
Quando os entrevistados foram questionados se conheciam alguém que mentiu no currículo, um impressionante 93% das pessoas disseram que sim. As três mentiras mais comuns estão relacionadas a experiência profissional (27%), habilidades (18%) e responsabilidades do trabalho (17%).
Essas pessoas foram pegas e, em caso afirmativo, o que aconteceu?
Apenas 31% dessas pessoas foram pegas. Dos indivíduos flagrados, 65% foram demitidos ou não foram contratados. Isso significa que apenas 21% das pessoas que mentiram no currículo pagaram o preço de perder um emprego ou uma oportunidade de emprego.
As mentiras que dizemos
O que acontece quando viramos o jogo contra nossos entrevistados e perguntamos se eles pessoalmente mentiram no currículo? Os números mudam drasticamente. Aqui está o que descobrimos.
Apenas 36% dos entrevistados confessaram ter mentido em um currículo. Isso representa uma redução de 57% quando personalizamos a pergunta.
Como isso é possível?
Poderíamos ter entrevistado uma amostra de pessoas honestas.
Todo mundo conhece dezenas, senão centenas de pessoas, das quais apenas um único indivíduo mente.
Muitos deles conhecem os mesmos mentirosos.
Eles estão mentindo sobre não mentir. (Chegaremos a isso.)
As cinco principais partes do currículo onde as pessoas florearam a verdade são as seguintes:
Experiência profissional – 25%
Responsabilidades do trabalho – 21%
Datas de emprego – 16%
Habilidades – 15%
Salário – 10%
Outras tendências interessantes?
Mentir: comparação por gênero e idade
Os homens (58%) mentem mais vezes do que as mulheres (41%) no currículo.
No que diz respeito à idade, 38% dos jovens (18-39 anos) confessam mentir mais vezes do que pessoas mais velhas (com 40 anos ou mais, 30%). Achamos isso surpreendente, pois quanto mais tempo você estiver vivo, maiores serão as chances de você mentir em algum momento. Viés de memória, talvez?
Quando dividimos os dados por setor, descobrimos que:
Profissionais de negócios e varejo mentem no currículo quase 50% das vezes.
Profissionais de educação e saúde (30%) são os menos propensos a mentir.
Não existe grande diferença em mentir no currículo baseado no nível de escolaridade.
Agora, sabemos sobre o que as pessoas mentem no currículo, mas não sabemos realmente por que mentem. Vamos ver quais fatores levam as pessoas a mentir.
Mentir ou não mentir?
Por que as pessoas mentem?
Sejamos honestos: as pessoas mentem porque querem conseguir uma entrevista e um emprego. Mas as coisas ficam interessantes quando olhamos os detalhes:
Cerca de 23% mentiram mesmo pensando que estavam qualificadas.
Já algumas razões mais óbvias:
Elas queriam um salário maior para aquele cargo – 18%
Elas não estavam qualificadas para o cargo – 17%
E a resposta mais honesta de todas está no topo da lista:
Elas não achavam que seriam pegas – 18%
O desemprego de longa duração é a principal razão para mentir. Cerca de 37% dos entrevistados escolheram esta resposta, quase o dobro do segundo motivo mais comum. Ressoou mais com os baby boomers (quase 50%) e menos com a geração Z (26%).
Situações excepcionais requerem medidas excepcionais. Mas, não para todos.
Então, quem não mente e por quê?
O fator mais significativo que explica por que as pessoas não mentiram é que não queriam ser desonestas (38%).
Aparecendo como o segundo motivo mais significativo: elas não queriam ser pegas na mentira (31%).
23% dos entrevistados também afirmaram que não mentiram porque estavam qualificados para o cargo. Invertemos esse número e vemos que 75% dos entrevistados não se sentiam qualificados para o trabalho e ainda assim optaram por não mentir.
A conclusão?
As pessoas não mentem por causa de padrões morais gerais, medo de serem pegas e por presumirem que são simplesmente bons candidatos.
Agora, voltando à discrepância entre quantas pessoas conhecem um mentiroso e quantas pessoas são mentirosas.
À primeira vista, essas respostas iniciais pareciam erradas. Como é possível que tantas pessoas conhecem alguém que mentiu (93%), mas raramente mentem (31%)?
Fizemos perguntas adicionais e descobrimos a raiz do problema: a maioria das pessoas mente no currículo – e nem se dá conta.
Pego em uma teia de mentiras
Quando foram feitas perguntas específicas aos entrevistados em relação a determinadas seções do currículo, descobrimos que 1 em cada 3 entrevistados “honestos” mente no currículo.
O que isso significa? As pessoas não acham que estão mentindo no currículo, mas esticam enganosamente as datas de um emprego, colocam habilidades que não possuem e aumentam as principais conquistas de cargos anteriores.
O resultado?
56% das pessoas realmente mentem no currículo – quer se deem conta ou não.
Fizemos aos entrevistados uma série de perguntas específicas relacionadas a diferentes partes do currículo para apurar se eles contam a verdade completa e honesta ou se a floreiam para parecer melhor no papel.
Mais de 10% das pessoas que, a princípio, alegaram nunca ter mentido, confessaram inadvertidamente:
Você já disse no currículo que é bom em algo que não se sentiria confortável em fazer quando solicitado? (15% disseram que sim)
Você já esticou as datas de um cargo em que trabalhou? (13% disseram que sim)
Você já arredondou sua média escolar no currículo? (12% disseram que sim)
Você já exagerou seus resultados de cargos anteriores no currículo? (11% disseram que sim)
Além disso, jovens (18-39 anos) confessaram inadvertidamente que mentiram mais vezes do que pessoas mais velhas (com 40 anos ou mais). Isso é especialmente perceptível quando se trata dos baby boomers que têm a menor taxa de sim para esse conjunto de perguntas.
Mentiram
Mentiram sobre não mentir
Geração Z
23%
41%
Geração Y
21%
38%
Geração X
19%
35%
Baby Boomers
20%
20%
Para a maioria dessas perguntas, os profissionais dos setores de negócios e finanças e de software/TI também apresentam a maior taxa de sim. Os trabalhadores de educação são os menos propensos a mentir.
Aquelas questões relacionadas ao nível de ensino ou à experiência profissional produziram resultados interessantes. Os mais propensos a mentir no currículo (quando afirmaram que não mentem) são aqueles com diploma de bacharel ou algum diploma universitário. Ao mesmo tempo, os mais confiáveis são as pessoas sem diploma universitário.
Possíveis razões: estes entrevistados podem estar em setores onde mentir é mais comum e há um maior incentivo para isso. Ou é simplesmente porque a classe social mais alta prediz um aumento do comportamento antiético, como uma pesquisa revelou.
Conclusão
Toda a pesquisa aponta para um fato: mentir no currículo acontece com mais frequência do que imaginávamos.
Este estudo pôs à prova essa suposição – e os resultados foram surpreendentes. Veja um resumo de nossas descobertas mais importantes:
A grande maioria (93%) das pessoas conhece alguém que mentiu no currículo.
Dos que mentiram no currículo, apenas 21% foram demitidos ou não foram contratados.
As mentiras mais comuns em um currículo são sobre experiência profissional (27%), habilidades (18%) e responsabilidades do trabalho (17%).
Apenas 36% admitem abertamente que mentiram no currículo.
Porém, dos 65% que disseram nunca ter mentido no currículo, 1 em cada 3 confessou florear a verdade, tornando a porcentagem real de pessoas que mentem 56%.
Os homens (58%) mentem mais vezes do que as mulheres (41%).
O fator mais importante que explica por que as pessoas mentem no currículo é estar desempregado por um longo período.
Metodologia e limitações
Neste estudo, coletamos respostas de 1.051 pessoas por meio do Mechanical Turk da Amazon. Os entrevistados consistiam em 49,7% de homens e 49,9% de mulheres. A idade média da nossa amostra foi de 37 anos com desvio padrão de 12.
Este estudo de autorrelatos investigou se as pessoas mentem no currículo, sobre o que mentem e quais fatores as levaram a mentir. Também verificamos até que ponto os não-mentirosos eram honestos, fazendo perguntas complementares pontuais.
Os entrevistados responderam a 21 perguntas, a maioria das quais baseadas em escala de nível de concordância ou de múltipla escolha. Como a experiência é subjetiva, entendemos que alguns participantes e suas respostas podem ser afetados por atualidade, atribuição, exagero, auto-seleção, não resposta, viés de resposta voluntária, viés de interesse próprio e superioridade moral ilusória. Além disso, as pessoas podem estar mentindo sobre mentir. Entendemos que definir o que constitui uma mentira é um desafio por si só. No entanto, para efeitos deste estudo, a mentira no currículo é definida como qualquer discrepância entre a realidade e o que é relatado na candidatura.
Dada a composição etária e de gênero da nossa grande amostra, assim como o fato de a taxa oficial de participação na força de trabalho em julho de 2019 ter sido de 63%, o estudo pode ser generalizado para toda a população. Além disso, uma revisão da literatura e de estudos relevantes sugere que os resultados obtidos na pesquisa corroboram resultados prévios e complementam estudos anteriores ao controlar relatos de mentiras explícitos em comparação a implícitos.
Com 10 anos de experiência trabalhando em RH, Bruno escreve sobre carreira, criação de currículos e busca de emprego. Membro da Associação Profissional de Redatores de Currículos e Coaches de Carreira (PARWCC), Bruno escreveu mais de 100 artigos para a ResumeLab desde 2021.